sexta-feira, 3 de agosto de 2007

ZAZZO


Para Zazzo (in Lurçat, 1979), a criança consegue superar a dicotomia entre o que vê e o que sente quando for capaz de compreender que tipo de espaço pode estar representado no espelho e isto só se resolve mais ou menos aos vinte meses. Com dois anos e meio, três anos, ela tem condições de entender que “o espaço que ela sente é o mesmo que ela vê no espelho”. A este respeito, Wallon mostra que o eu exteroceptivo fornecido pelo espelho vem se juntar ao eu proprioceptivo, num processo tônico-postural.
Gradualmente, portanto, ela apreende sua imagem especular como um reflexo, uma imagem, uma representação, um símbolo.
Já o animal não consegue ultrapassar a visão de sua imagem no espelho. Como experiência, colocamos um galo índio, conhecido como galo de briga, diante do espelho. Cada vez que ele se olhava, ficava vermelho, arrepiava as penas e atacava o espelho. Esta experiência foi feita várias vezes e, em todas, ele tinha a mesma reação. Podemos citar, também, outra experiência salientada por Guillarme (1983) com chipanzés. Ao se depararem com sua imagem refletida, eles passavam a mão no espelho, olhavam atrás, e, como não viam nada, perdiam o interesse por ela.
A criança, ao contrário, usa o espelho como fator de conhecimento de si, raciocina, descobre seu eu, desenvolve seu esquema corporal.
Lacan (in Ajuriaguerra, 1980, p. 340) foi um dos pioneiros a salientar o estágio do espelho como fundamental para o desenvolvimento do esquema corporal. Para ele, a criança, até mais ou menos seis meses de idade, possui uma visão de corpo fragmentado, retalhado, e com a imagem especular começa a se ver de forma integrada, organizada, como um todo. Ele afirma:


A imagem se percebe como uma forma humana na qual ela reconhece, ao mesmo tempo, ela mesma e o outro. É a partir desta imagem especular que se resolve o mal-estar ansiogênico de seu corpo fragmentado e que ele vai construir e reger o mundo; esta imagem de corpo desmembrado, projetado em diferentes segmentos, é substituída, então, pelo sentimento de ser um, afetiva e fisicamente, ainda que o outro se imiscua constantemente.

Nenhum comentário: